Para compreender a história, precisamos saber que a Saúde Bucal, ou seja, os cuidados com os dentes, já existia bem antes da criação da profissão de Cirurgião-Dentista, e que vem sendo erguida bem antes da fundação da primeira faculdade. Desta forma, os modelos de saúde bucal são definidos e caracterizados baseando-se nas práticas odontológicas da época em questão, no contexto social em que estavam inseridos, nos recursos humanos disponíveis, nas tecnologias, ambientes e resultados obtidos no período que foram criados. São teorias que nos ajudam a pensar sobre a realidade do ontem e do hoje.
O primeiro modelo ficou conhecido como Odontologia Artesanal. Era uma prática rudimentar realizada pelos cirurgiões barbeiros, além barba e cabelo eles também faziam extrações dentárias no meio da feira, entre a multidão. Como não havia faculdades, os ensinamentos eram passados de mestre para aprendiz. A prática era itinerante e meramente curativa, somente para aplacar a dor.
Em 1841, com o surgimento da primeira faculdade de odontologia, em Baltimore, Estados Unidos, o modelo passa de artesanal para Odontologia Científica ou tradicional e em 1910, com o Relatório Flexner passa também a ser chamada Odontologia flexineriana. Segundo Eugênio Vilaça Mendes (1986) este modelo tem como características o mecanicismo (o corpo humano é entendido como uma máquina), biologicismo (a odontologia se fundamenta nas ciências biológicas), especialista (a boca ainda é dividida em partes, dentes, gengiva...), individualista ( o indivíduo é considerado isoladamente), tecnicismo (dependente da técnica), curativismo ( centra sua atenção na cura) e ainda mercantilista ( fundamenta-se na venda de serviços). Como essa era uma prática desenvolvida no setor privado, havia a necessidade de sua ampliação para apresentação à sociedade civil, para isso teria que haver mudanças nesse modelo.
Dessa premissa surgiu a Odontologia Sanitária/ Social que teve como diferencial a inserção da odontologia na Saúde Pública, porém, continuou no conceito flexineriano que despertou a reflexão de que à assistência individual não seria suficiente para atuar neste setor da saúde. A primeira tentativa se deu nos anos 50, trabalhando dentro das escolas, adotando o modelo incremental. Dessa forma se conceituou como um modelo excludente, individualista, de planejamento rudimentar onde, prevenção e cura se desarticulam.
Nos anos 80 e 90, as ações preventivas ganharam prestígio com as importações de tecnologias preventivas, mas no setor privado essas ações só foram implantadas quando foram transformadas em lucros. O maior problema foi mesmo no setor público, pois a prática preventivista foi usada em detrimento de serviços assistenciais dando a prevenção o status de única.
Um pouco antes, nos anos 70, as críticas ao modelo tradicional fez surgir o que chamamos de Odontologia Simplificada. Tentou-se diminuir o “supérfluo” para diminuir os custos da assistência, criando-se para isso o conceito de equipe odontológica e conseqüentemente aumentar a cobertura dos serviços. Este modelo não deixou de lado o público alvo, que continuou com os escolares dando ênfase à assistência curativa. Confrontando-se com a qualidade versus quantidade.
Nos anos 80, falava-se em Odontologia Integral, que possuía três pilares explicativos. O primeiro, atitude preventiva, que levava em consideração a integralidade da atenção, segundo, a simplificação sem exageros, e em terceiro, a desmonopolização do saber, dando lugar a educação e participação da comunidade.
Com o advento da Reforma Sanitária, reivindicava-se a saúde como um direito de todo e qualquer cidadão que deveria ser garantido pelo Estado. E para assegurar esse direito, precisava-se de um modelo de saúde bucal que respeitasse os princípios da universalidade, equidade, integralidade, descentralização e participação social. Foi então, criada a Saúde Bucal Coletiva. Um modelo pautado no conhecimento em todos os aspectos, a sociedade na qual foi implantado, entendendo que o processo saúde-doença tem seus determinantes sócios- culturais que vão além do biológico. As práticas coletivas em saúde rompem com o isolamento do cirurgião dentista, deixa de lado à passividade da população, os tornado sujeitos de todo o processo.
Nos dias atuais, a saúde bucal coletiva, vem ganhando espaço e se caracterizando como modelo vigente, que acompanha toda transformação que a saúde sofreu com a criação do sistema, que hoje rege a saúde no Brasil.
REFERÊNCIAS:
BLEICHER, Lana. Saúde para todos, já!. 2. ed. Fortaleza: Expressão Gráfica, 2004.